Diva convida Divas

Quinze mulheres com muita história pra contar sobre a cultura de Lagoa Santa foram homenageadas no mês das mulheres. 


Alba Alves


O “Diva Convida as Divas” foi promovido pelo vereador Artileu e o nome escolhido faz uma referência a Dona Diva de Paula, antiga proprietária da sede da Vila de Cultura.
A Vila Cultura é um projeto idealizado por diversos artistas da cidade de Lagoa Santa, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, e a ideia principal é reunir, em um único lugar, apresentações culturais, feiras, exposições, manifestações artísticas e teatrais, oficinas, musicais, cursos e palestras.
A Vila de Cultura é hoje uma opção de lazer, cultura e inclusão social para a população.“Nosso mandato será sempre porta voz dos artistas e do público na busca de avanços na Cultura, mas isso sem nunca esquecer as pessoas que começaram a história. Além de homenagear, temos muito o que  aprender com essas mulheres”, destacou Artileu.
Veja quem foram as 15 homenageadas:

Antera Francisca da Silva, Belkiss Amorim, Branca Machado de Sales, Érika Suzanna Bányai, Helena Ferreira, Hirtes Torres, Jalile Daher, Lêda Gontijo, Maria Matos, Maria Marilda Pinto Correa, Marlene Viana, Marli Elza Barbosa, Mariza Viana, Romildes Gonçalves, Rosângela Albano.


Conheça agora a história de Dona Helena Ferreira 
"98 anos não são 98 dias" 
Foto Alba Alves
Em uma tarde de sol fomos recebidos por Dona Helena, uma senhora cheia de vida e bastante conhecida na cidade. Logo na entrada a simplicidade e o carisma são tão contagiantes que os sorrisos fluem com a mesma facilidade da conversa. Foram horas de bate papo, histórias de uma vida cheia de conquistas, nem sempre fáceis de transpassar.

Dona Helena nasceu em Guanhães, no interior de Minas Gerais, no dia 22 de junho, cresceu na roça plantando e colhendo o que a terra dava e foi criada assim, dando valor a tudo e a todos a sua volta. O que muitos não sabem é que quando veio para Lagoa Santa, estava doente e foi a fé em Nossa Senhora da Saúde e as águas da lagoa Central que a curaram. “Eu tive um tipo de reumatismo e não conseguia andar. Minha filha Maria da Conceição, na época com cinco aninhos, buscou a água da Lagoa e trouxe para eu beber, foi assim que em oito dias me curei daquela dor imensa. Eu desci andando, ajoelhei na beira da Lagoa e agradeci.”, conta.
Devota de todas as “Nossa Senhora” (como ela mesma diz) Dona Helena é o que podemos considerar uma mulher batalhadora que já trabalhou em muitas atividades para ajudar o marido Sr. Geraldo Flauzino (falecido) para o sustento dos quatro filhos. Dona Helena conta que já “catou” lenha na rua, lavou roupa pra fora, trabalhou em casa de família em Belo Horizonte, mas o que a consagrou foi a costura. Quando perguntei se ela havia feito algum curso, enfática, respondeu: “Aprendi da minha cabeça”. A partir daí começa a história de plumas e paetês com o carnaval de Lagoa Santa.
Com as unhas em um tom rosa choque, um turbante preto e a blusa estampada em preto e branco (cor do time do coração), carregando vários álbuns de fotos dos tempos de Carnaval de Rua em Lagoa Santa, Dona Helena diz que não tem nada do que reclamar da vida. A costureira da primeira escola de samba da cidade “Unidos dos Satãs” confeccionava as fantasias da ala das baianas e “colocava a escola na rua”.
Os turbantes, que acabaram se tornando uma marca da divertida aposentada, são usados por causa de uma operação que precisou fazer na cabeça. “Fui atingida por um objeto e acabei precisando de intervenção cirúrgica. Gostava mesmo era de andar penteada e toda emperequetada”, diz aos risos.
Dona Helena tem tantas histórias que fica até difícil contar tudo em tão pouco espaço. “98 anos não são 98 dias! Foram inúmeras conquistas e eu respeito muito a minha história. Gosto de mostrar tudo o que fiz e voltaria a fazer tudo de novo se fosse preciso.”, comemora.

Conheça a história de Leda Gontijo moradora de Lagoa Santa uma das maiores artistas plásticas do Brasil


Foto Divulgação
O que dizer de Leda Gontijo? Com 102 anos de vida comemorados em março deste ano, o ânimo e a disposição tomam conta do corpo desta senhora. Com uma vida cheia de conquistas e experiências, Leda é o que podemos definir como a alegria em forma de gente. Desde o primeiro momento somos tomados por um sentimento de jovialidade ao adentrar o quintal da casa de Dona Leda.
Nascida em juiz de fora em 1915, Leda é professora de cerâmica e escultora no próprio atelier. Tem o maior orgulho de dizer que foi a primeira ceramista de Belo Horizonte em 1945. Já foi premiada com a Medalha Machado de Assis, tem obras no Museu de Hamburgo na Alemanha, no Centro Cultural da UFMG, na Praça Raul Soares no centro de BH, entre outros lugares. Teve seis filhos, dois homens e quatro mulheres, costura, borda, cozinha, decora, joga cartas, desenha e pinta, faz esculturas. “Eu não sei ficar parada, sou irrequieta”, diz aos risos.
A artista foi casada 66 anos com o Paulo, marido que morreu em 2002, e disse que o segredo para manter uma vida de casada saudável é não brigar. “Nunca brigamos, isso não é vantagem! Eu não brigo com ninguém e acredito que brigas não resolvem nada. Às vezes falamos algo e depois que se fala não dá pra voltar atrás”, alega.
Para cuidar da cabeça Dona Leda lê muito, são diversos livros espalhados pela sala de jogos e segundo ela, todos já foram lidos. “Eu não durmo sem ler, sempre tenho um livro na cabeceira da cama”. Por falar em jogos, o jogo de cartas buraco é um dos passatempos preferidos de Leda. “Toda semana as minhas amigas vêm jogar comigo”.
A enfermeira que cuida dela contou que as vezes é complicado acompanhar o pique de Leda que gosta de cuidar de jardins e dos animais. Durante a visita ela diz que a frase “Lar doce Lar” não é correta, para ela o certo é “Rua doce Rua”. Quando pergunto o porquê disso, ela responde sem pestanejar: “Minha filha, eu gosto de sair, passear, ver gente, não gosto de ficar presa dentro de casa”, diz. Na verdade o que ela queria era sair para me encontrar, disse que se eu a convidasse, que tomaria um café ou almoçaria comigo.
No final deste alegre bate papo, Dona Leda diz que vai para a praia, na Bahia, distrair a cabeça, viajar com a família e rever os amigos. “Vou ficar alguns dias lá para descansar um pouco”, pergunto se ela não se cansa de tantas atividades e ela conclui: “Menina, estou me preparando pra ficar velha, eu consigo isso e muito mais”.

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