Cães envenenados! O que fazer?
Envenenamento de animais é crime previsto na Lei federal denominada crueldade contra animais
Alba Alves
Animais domésticos
geralmente são companhia de pessoas e tratados como parte da família. No
Brasil, eles já são mais de 130 milhões, entre cães, gatos, aves e peixes e por
isso o país tem a 4ª maior população de animais de estimação do mundo. Então já
imaginou estes entes queridos em perigo? É isto que está acontecendo no bairro
Lapinha em Lagoa Santa. Recebemos denúncia de famílias que tiveram animais
domésticos envenenados.
Denise e José Antônio com os cachorros que sobreviveram |
Denise Kolanscki de Alencar contou que conseguiu manter seus
dois cães vivos após tratamento uma clínica veterinária. Eles foram
envenenados com uma substância definida como organosfosforados e carbamatos. A
cadela Bela apresentou sintomas de envenenamento no dia 29 de maio, foi levada
à clinica veterinária, tratada e conseguiu sobreviver. No dia 03 de junho o
outro animal do quintal, o cão Nego, também ingeriu a mesma substância e o que
chama a atenção é que a proprietária estava em casa desta vez. “Não tenho ideia
de como o veneno pode ter chegado até eles. É muito ruim o que vem ocorrendo
aqui no bairro, me sinto tão insegura com essa situação”. As estatísticas
mostram que apenas 1/3 dos animais vítimas de envenenamento sobrevivem e por
isso Denise e o marido José Antônio de Campos comemoram. “A única coisa que
eles fazem é latir, não tem como miar”, brinca.
Entramos em contato com um engenheiro agrônomo para confirmar
do que se tratavam as substâncias citadas e ele explicou que são conhecidas
popularmente como “chumbinho”. O chumbinho ou veneno 1080 é a base de
estricnina e no Brasil é bastante utilizado no combate aos ratos, porém ele não
mata apenas o animal envenenado. São registrados anualmente cerca de 200 mortes
de crianças por causa do veneno. Os sintomas se parecem com os de um ataque
cardíaco, aparecem 30 minutos após a exposição ao produto e a morte pode
acontecer entre duas e sete horas.
Segundo o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA),
responsável pela fiscalização de estabelecimentos que comercializam agrotóxicos
registrados no Ministério da Agricultura, o chumbinho é um produto
clandestino e não pode ser usado ou vendido. “O comerciante que insiste é
considerado autor de infração e será autuado. O estabelecimento é interditado e
o comerciante responde a um processo administrativo”, explica a assessoria.
Conversamos com o delegado Flávio Teymeny que confirmou as
investigações sobre o crime previsto na Lei Federal 9.605 – crueldade contra
animais. O artigo 32 diz que é considerado crime ambiental “praticar ato de
abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos”. A pena prevista é detenção de três meses a
um ano e multa.
De acordo com o delegado, já existe um suspeito que será
indiciado. “Nós não sabíamos até agora deste fato, pois não haviam feito o
boletim de ocorrência. Vamos dar prioridade a este caso, ouvir os suspeitos e
orientar os moradores. Parece que são casos isolados.”, diz Teymeny.
No entanto, não foi o que pareceu. Estivemos na região da
Lapinha e ouvimos mais duas famílias que também foram vítimas do crime.
Conceição da Costa de Paula, 80 anos, perdeu a Lessie após envenenamento |
Dona
Conceição da Costa de Paula, 80 anos, conhecida na região como Dona Neném,
tinha a cadela Lessie há dois anos. Ela foi recolhida das ruas do bairro e foi
cuidada por Dona Neném. Os olhos se encheram de lágrimas durante a entrevista,
principalmente quando ela contou do carinho que sentia pelo animal. “A Lessie
era linda, me fazia companhia, era carinhosa e muito atenta no quintal. Perdi
minha amiga”, conta. Dona Neném chora quando lembra que a cachorra foi
envenenada. “O que aconteceu foi uma covardia. Estou muito decepcionada. Até
agora não consigo explicar como este veneno veio parar aqui”. Outro que perdeu
o cão de estimação foi o Gustavo Arruda de Oliveira que organizou reuniões com
os vizinhos e disse que vai lutar contra o que está ocorrendo no bairro.
“Registrei o boletim de ocorrência para evitar que volte a acontecer. Luto em
defesa dos animais e não quero que volte a acontecer”, explica.
Márcia Regina Ferreira da Zoonoses de Lagoa Santa disse que quando se
trata de crime a denúncia precisa ser feita na polícia civil para que seja
encaminhada ao Ministério Público. Ela contou que a prefeitura vai começar um
levantamento dentro do município para contabilizar os animais de rua. O
delegado Flávio disse que os moradores precisam ficar atentos e se unirem para
evitar mais mortes e orientou. “Os cachorros precisam ficar dentro de casa e o
morador tem que tentar não deixá-los sozinhos”. Denise disse que os cães da
casa dela não têm acesso a rua e que pretende colocar circuito de câmeras. “Vou
vigiar meus animais, não quero que aconteça o que aconteceu com Dona Neném”,
alega. Vamos acompanhar o desenrolar deste fato!
Importante
➤➤➤➤ Importante
No caso da venda do chumbinho, o crime é Contra a Saúde Pública (art. 273 parágrafo 1º-B, inciso I e IV do Código Penal). Neste caso, a pena de reclusão é de 10 a 15 anos de prisão. Vale ressaltar que o veneno pode ter várias composições além das citadas na matéria.
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